terça-feira, 1 de julho de 2014

O califado islâmico x O Sacro Império Romano-germânico

     "Depois de avanço no Iraque, ramificação da Al Qaeda declara califado no Iraque". link da notícia: http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN0F40X020140629?sp=true.  Aí está, o primeiro califado islâmico dos tempos modernos. A primeira vitória realmente positiva e importante desses últimos 30 anos de fundamentalismo religioso no Ocidente ou Oriente. Os evangélicos fundamentalistas também parecem avançar nessa direção nos E.U.A., no Brasil e outros lugares, ganham cada vez mais terreno na política. Choque de civilizações? não creio. Creio sim há um só movimento de fundamentalismo religioso que abarca o mundo todo, sob diferentes expressões, pentecostalismo no Ocidente, islamismo no Oriente Médio, Hinduísmo na índia. A meu ver, é uma reação à racionalidade ocidental predominante por aqui e por lá (Boko Haram, grupo terrorista nigeriano, significa "a educação ocidental é um pecado"), muito semelhante ao avanço do fundamentalismo cristão no início da idade média, que levou ao colapso e a destruição de quase toda a ciência e filosofia pagã greco-romana, simbolizada pela destruição da biblioteca de Alexandria, do qual só sobraram restos esparsos. A questão a saber é se, repetindo a história, conseguirão destruir a ciência e a filosofia tal como naquela época, e entraremos numa nova idade média, ou se dessa vez será diferente? creio que não. E a razão é a internet: ao contrário daquele tempo, o conhecimento hoje está muito bem preservado no mundo virtual, e é virtualmente impossível destruírem-no todo de uma vez, pois ele não se concentra num único lugar, e sim está espalhado em milhares de servidores alocados pelo mundo todo. Além disso, não há apenas 50 ou 100 cópias das obras, e sim bilhões, de modo que, se destruírem uma, milhões têm a chance de sobreviverem esquecidas por aí, em meios diversos, como no P2P, blogs, 4Shared etc, e a arquitetura da internet é tal que não pode ser destruída de uma vez, a menos que todos os países do mundo concordem com isso, o que é praticamente impossível, dado os interesses específicos de cada político dos 200 e tantos países independentes que existem. Então, o conhecimento certamente vai sobreviver. Mas será que vai ganhar? só vendo para crer. Mas a perspectiva diria ser otimista: dados dizem que o mundo vem se tornando menos violento e menos supersticioso desde pelo menos o fim da idade média. Parece que, lentamente, a racionalidade vai vencendo a superstição religiosa, movimento que ganhou impulso grande com o iluminismo e a revolução francesa, e muito acelerado no século XIX e XX. Um sintoma disso é o mundo árabe: olhando para ele, é inegável a sua semelhança com a Europa medieval até pelo menos o século XVIII. Porém, há sinais claros de que há em gestação dentro deles um movimento em prol da racionalidade e do pensamento científico, os quais redescobre cada vez mais seu passado esquecido de avanço humanista e científico de antes do século XVI. A primavera árabe foi um desses sintomas, assim como a falta de ressonância do pensamento fundamentalista muçulmano como o ISIL entre a maioria da população, majoritamente muçulmana moderada, não obstante a violência e repressão dos radicais islâmicos. O secularismo islâmico ganhou força depois dessa primavera em vários lugares. Embora atualmente fortemente reprimido em vários lugares, como no Egito, o movimento de crescimento do secularismo parece ser evidente. Não há que se esperar que de repente, esta cultura secular se implante por lá, basta observar que os vencedores das eleições após os conflitos da primavera, foram os partidos religiosos como a irmandade muçulmana. Entretanto, as perspectivas são boas: o secularismo ocidental vem exercendo grande influência sobre o secularismo islâmico, dentro de um contexto de globalização e aproximação de diversas civilizações entre si, muitas vezes instantaneamente pelo Skype ou Gmail. Mas, note-se bem: o secularismo islâmico, embora influenciado pelo ocidental, é independente, gestado legítimamente dentro do pensamento islamita. Não é simplesmente uma importação do Ocidente, como alegado pelos conservadores. Vejamos o que vem por aí. 
 
Eduardo Viveiros
 
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